De Bruxas a Botânicas – a história da invisibilidade feminina nas Ciências Naturais

Mais um capítulo fechado do meu livro da vida.

Ontem eu terminei as aulas presenciais da disciplina que ministrei na UFRJ como parte integrante do meu currículo do doutorado.

Foi uma experiência maravilhosa, sinérgica em todos os aspectos. Começou com a elaboração da disciplina com a minha parceira de doutorado e amiga Erika McNight.Uma disciplina nova e inusitada, com um trabalho de garimpo histórico fantástico! Afinal, como resgatar através de bibliografia confiável a história de mulheres naturalistas que foram apagadas da Historia da Ciência através dos séculos?

Desde a revisão de papiros e tábulas de barro (!!!) até a leitura de livros assinados por homens, mas que na verdade – pela propria descrição – foram totalmente escritos por mulheres, a fim de deixarem os registros das expedições para posteridade.

Foram varios “momento revolta”, mas talvez o que mais mexeu comigo foi o caso do roubo da foto de Rosalind Franklin, que contei neste post. Roubo este que propiciou o Premio Nobel para os usurpadores.

Foi muito bom esse processo de construção a 4 mãos. Só tenho que agradecer a oportunidade.Não foi apenas o resgate desses nomes, mas uma proposta de que eles – os alunos – podem mudar esse futuro.

E, terminando este post, fico com Gonzaguinha, que nos disse certa vez “eu tenho fé nessa rapaziada”. Eu também Gonzaguinha, eu também!!!

Entre Ervas e Elixires: O Legado de Tapputi- Belatekallim na Química

O ano era de 1.200 a.C.  O lugar? A cozinha de algum palácio na região da Mesopotâmia.

Nesta cozinha, uma mulher chamada Tapputi experimenta não apenas diferentes plantas, mas também diferentes formas de extrair os “elixires” destas plantas. Seu segundo nome Belatekallim quer dizer “mulher orientadora de um palácio”.

Entre aromas e texturas, Tapputi começa a experimentar diferentes utensílios para melhorar seus processos de dissolução e extração das mais diferentes partes das plantas. Suas técnicas revolucionarias inventam ou aperfeiçoam a destilação, a enfleurage a frio, a tintura e a extração de aromas.

Ela também desenvolveu uma técnica para usar solventes – como água destilada e álcool de cereais – para tornar os aromas mais leves, brilhantes, de maior alcance e mais duradouros do que quaisquer outros óleos de perfume.

Esse processo era sagrado na antiga Mesopotâmia, pois o perfume era uma oferenda religiosa e era usado com frequência para ungir ícones em santuários no topo dos zigurates.

Tapputi melhora seus recipientes, e o que antes eram panelas, pratos e copos, agora se delineiam como recipientes próprios para ir ao fogo, suportar alcoóis e resinas, entre outros.

As plantas, divididas entre caules, folhas, frutos, raízes e flores, tiveram em cada parte sua a extração dos elixires, como seus odores e viscosidades que eram próprios. Dos elementos mais usados temos flores, óleo, cálamo, plantas do gênero cyperus, mirra e bálsamos.

E no interior deste recinto, surge aquela que é considerada a primeira química, que através da técnica, isola fragrâncias das mais diferentes espécies e as mistura, dando origem à química dos perfumes.

Sua figura e seu trabalho de perfumaria são descritos em uma peça com escrita cuneiforme datado de 1.200 a. C. da antiga Mesopotâmia. Dela não há nenhuma imagem que nos dê a idéia de como ela era fisicamente, mas felizmente seu legado ficou descrito nestes fragmentos de escrita cuneiforme.

as fotos das tabuas se encontram em diversos museus, sendo que a Cuneiform Digital Library Initiative possui um arquivo de imagens dos diversos fragmentos https://cdli.mpiwg-berlin.mpg.de/